Uma pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está buscando uma alternativa de baixo custo e de larga escala produtiva para atender a alta demanda do país por substitutos de pele humana em vítimas de grandes queimaduras ou de lesões por câncer de pele. O trabalho é resultado de uma parceria público-privada, que conta com investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Biocelltis Biotecnologia S.A.
A Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) faz o gerenciamento de recursos destinados ao projeto como contrapartida pela empresa, que tem sede em Florianópolis. A Biocelltis produz biomateriais e desenvolve tecidos humanos em laboratório para aplicações nos setores médico, biomédico, farmacêutico, veterinário e dermocosmético. "A Fapeu é muito importante em nosso projeto, pois facilita o contato entre a empresa e a UFSC, sendo essencial no gerenciamento desse projeto", destaca o professor Juliano Ferreira, coordenador da pesquisa.
Iniciados em fevereiro de 2021 e com duração prevista de quatro anos, os trabalhos são realizados nos laboratórios da UFSC e da Biocelltis. Os primeiros resultados são animadores, segundo a doutoranda Manuella Godoi, que vem planejando, executando e obtendo resultados em modelos in vitro e in vivo.
“Em ensaios de segurança e eficácia clínica, a matriz 3D CellFate® não induziu nenhum processo de irritabilidade cutânea primária ou acumulada ou sensibilização cutânea nos participantes do estudo. Quando utilizada em pele saudável, a matriz promoveu hidratação profunda, recuperação da barreira cutânea, efeito calmante, cicatrizante e proteção contra a entrada de microorganismos. Estudos in vitro comprovam os efeitos funcionais da matriz nas células, a não toxicidade do biomaterial e seu uso como suporte para o cultivo de células em substitutos epidérmicos, dérmicos e /ou dermoepidérmicos”, explicou Manuella. A doutoranda atua sob a orientação do professor Juliano Ferreira, do Departamento de Farmacologia da UFSC; da doutora em Engenharia Química e gerente da Biocelltis, Emily Reis; e da doutora em Farmacologia e diretora da Biocelltis, Janice Koepp.
Inovação
A matriz ARTSkin, utiliza como suporte estrutural para a biofabricação do substituto de pele a matriz 3D CellFate®, patenteada pela Biocelltis. A matriz ARTSkin é um produto de terapia celular avançada, considerado um substituto temporário de pele composto de células do próprio paciente, ou seja, uma matriz autóloga. O produto pode ser indicado para tratamento de queimaduras de 2º e 3º grau, além do tratamento de outras lesões cutâneas complexas, como úlceras, pé diabético, áreas receptoras e doadoras de enxerto cutâneo.
“A inovação no desenvolvimento da ARTSkin se dá pela forma de biofabricação da pele em laboratório, feita sob medida e caso a caso, fazendo uso de uma matriz 3D de propriedade da Biocelltis”, pontua a doutoranda. “Trata-se da personalização do tratamento do queimado com objetivo de elevar a qualidade da cicatrização e reparo tecidual, sem repetidas cirurgias plásticas para remodelamento da pele, garantindo redução de custos para o Sistema Único de Saúde (SUS) na manutenção e reinserção do indivíduo queimado e em sua própria qualidade de vida e retomada das funções laborais”, observa a Manuella. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Farmacologia da UFSC, ela é a responsável pela validação da ArtSkin em animais de laboratório, fundamental para garantir a segurança e a eficácia do produto quando aplicado em humanos e, também, para a produção de dossiê a ser encaminhado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Autonomia nacional
No Brasil, ainda não há produtos de engenharia tecidual aprovados para comercialização, apesar da demanda expressiva. Hoje, os dados apontam a ocorrência de mais de 1 milhão de queimados/ano, somado a 18 milhões de pacientes com diabetes, dos quais 30% desenvolverão lesões cutâneas complexas, segundo estimativa do Ministério da Saúde, e 170 mil novos casos de câncer de pele não-melanoma por ano, de acordo com números de 2020 do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“Além dos diferenciais em relação aos concorrentes, tratamos aqui de autonomia nacional, da possibilidade de fabricar e comercializar este tecido no país, o qual resultará em diversas outras inovações, uma vez que a pele cultivada também é uma ferramenta para tratamento de outras patologias que acometem a pele além de queimaduras e ainda na validação de novos medicamentos e produtos médicos'', ressalta Manuella Godoi.
PROJETO: AVALIAÇÃO PRÉ-CLÍNICA DA MATRIZ DE REGENERAÇÃO DÉRMICA ARTSKIN / COORDENADOR: Juliano Ferreira / juliano.ferreira@ufsc.br / UFSC / Departamento de Farmacologia / CCB / 4
* Esta reportagem integra a edição número 13 da Revista da Fapeu disponível em https://abre.ai/revistadafapeu
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